segunda-feira, 17 de outubro de 2011

EZlN 2 parte

3.    Origens e influência do EZLN

A revolução mexicana de 1910 foi o inicio da luta pelo direito a Reforma Agrária, da divisão de terras para a população. Neste movimento surgiu a figura ilustre de Emiliano Zapata, revolucionário que lutou contra a segregação dos povos indígenas do sul do México e contra a oligarquia agrária da região de Morelos, no estado de Chiapas.
As influências do EZLN estão simbolicamente ligadas aos ideais de Emiliano Zapata que lutava por “Terra y liberdad” assim:

Neste sentido, nos parece que os neozapatistas retomam a tradição da Revolução de 1910-1920 e os postulados básicos propugnados por Emiliano Zapata para desta forma tocar no imaginário social e simbólico mexicano e trazer para si elementos desse imaginário de longa tradição nacional de luta e revolução. Trata-se, porém, muito mais de uma redefinição de seus símbolos, do que uma ligação direta com os preceitos zapatistas originais. Ainda assim, os novos zapatistas retomam a bandeira de uma revolução interrompida, a bandeira que clama por “Terra e Liberdade”.  (Hilsenbeck Filho, Alexander,  ABAIXO E À ESQUERDA UMA ANÁLISE HISTÓRICO-SOCIAL DA PRÁXIS DO EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL,  cap. A herança de Emiliano Zapata e a relação com o território, p 27, 2007)

Os preceitos estão pautados nos idéias zapatistas, entretanto, se difere em alguns princípios, pois hoje a luta pela Reforma Agrária é contra um sistema econômico Neoliberal, que exclui os indígenas de sua maior fonte de vida, a terra, por motivos econômicos e comerciais. Entretanto, a essência da  luta e do movimento está pautado na terra, assim como na revolução mexicana.
 O zapatismo  está engendrado na sociedade mexicana, um símbolo que ficou  marcado desde a Revolução, alguns  historiadores usaram o termo de memória coletiva, como   Miche LOWY (marxista, brasileiro que trabalha como diretor de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique.), sendo assim, a luta  pela terra já está enraizada na mentalidade  da sociedade mexicana. Para justificar tal conceito usarei de uma referencia musical da banda Rage Against the Machine, que expressa em suas letras à luta contra o capitalismo e a luta das sociedades indígenas, e do zapatismo veja:





Sangue de Zapata (RATM)

Sangue de Zapata /Não foi derramado em vão
Da dívida do mais pobre /Guerrearemos
Para recuperar nosso nome /Sangue de Zapata
Não foi derramado em vão /Da dívida do mais pobre
Guerrearemos/Para recuperar nosso terreno

Em 1º de Janeiro de 1994
Os camponeses indígenas no Sul do México
Declararam guerra ao injusto/E ilegítimo governo

Da dívida dos  mais selvagens, os mais pobres
Veio um braço justo na luta
Por democracia, justiça e liberdade

E isso não vai parar até que a ditadura de 65 anos,
O Partido Revolucionário Institucional
Esteja caindo por terra
E a voz do povo será ouvida mais uma vez

Então se liga nisso
1º de Janeiro, eles se tornaram conhecidos como
O Movimento Zapatista
E eles têm algo a dizer, e eu quero vocês todos para
Cantarmos juntos rápido realmente

Ficaria mais ou menos assim
Vai, tudo para todos...
E nada para nós.
Tudo para todos, e nada para nós!



A banda Rage Against the Machine  de rock, exaltando a luta zapatista e o movimento do EZLN em suas músicas e deixa claro  o simbolismo do zapatismo enraizado em sua mentalidade e sua influência para o movimento.

Contudo, da onde aparece este grupo armado?
As origens do EZLN se remontam ao Congresso Indígena de San Cristóbal de las Casas (Chiapas/ México), assim o Congresso:

“ocorrido em 1974, marcou uma ruptura que fez com que comunidades indígenas chiapanecas desenvolvessem uma resistência, unindo as etnias participantes, uma vez que estas últimas passaram a perceber interesses comuns e a necessidade de unirem-se para melhor resistir à exploração, marginalização e preconceito a que estavam sujeitas. Estas mesmas etnias foram as que entraram em contato com o grupo de origem urbana que foi habitar a Selva Lacandona em Chiapas e, juntos, deram ao EZLN as características com as quais ele mostrou-se ao mundo em 1994.”( Origens do EZLN: o congresso indígena de San Cristóbal de las Casas. Andreo, Igor Luís. Especialização História/UEL)

Percebe-se que os povos indígenas viviam em conflitos étnicos e isso dificultava a luta contra a segregação destes, assim com o congresso indígenas as diferenças foram superadas unindo os povos indígenas na mesma luta, a luta pela sobrevivência, pela terra sua fonte de vida. Este foi um grande passo para o movimento zapatista, mais em contrapartida um grupo de marxista-leninista, em meados da década de 80 chegava a Selva Lancadona em Chiapas, este grupo visava mostrar seus problemas e suas lutas empreendidas na cidade, entretanto, suas propostas se diferiam das lutas dos povos indígenas, eram realidades diferentes. Este grupo que foi habitar a selva logo viu que precisaria se converter na luta indígena assim “passou por um processo de adequação à realidade material e cultural indígena chiapaneca, tornando-se um exército a serviço das comunidades indígenas.”(Andreo, Igor Luís. Especialização História/UEL).
Este grupo era um grupo urbano que teve sua origem na cidade de Monterey (então a segunda cidade mexicana mais industrializada), se chamava Frente de Libertação Nacional (FLN), que começou em 1960. Os primeiros  grupos da FLN chegaram em Chiapas em 1974, mas foram reprimidos  violentamente pelo exercito federal. Assim, alguns sobreviventes se deslocaram para regiões rurais, entre elas a Selva de Lancadona, tendo contato com as comunidades indígenas.
 Outro grupo que teve papel importante para o desenvolvimento do movimento zapatista foi a Igreja Católica, que no inicio seu objetivo era catequizar os indígenas e impedir o crescimento de outras religiões como protestantismo, e os mórmons entre outros. Entretanto, houve um grande choque, pois os católicos queriam promover a cultura cristã e erradicar os indígenas de seus costumes e de sua cultura, sendo assim os indígenas não aceitaram e houve violentas brigas entre os grupos indígenas, prós e contra.
Ao final da década de 60, alguns fatores impulsionaram mudanças no pensamento da Igreja Católica, e com o Concílio Vaticano II houve uma abertura na mentalidade católica, assim sua postura perante aos acontecimentos sociais tomaram direções diferentes. Essa abertura propiciou um novo olhar perante as sociedades indígenas, e agora o objetivo não era catequizar os indígenas e erradicar sua cultura e seus costumes, e sim um olhar sobre a emancipação da cultura indígena, houve uma preocupação em manter viva a cultura indígena. Os representantes da Igreja Católica nas sociedades indígenas de Chiapas participavam de grupos políticos, sindicatos, e até de organizações revolucionaria, com a chamada “Teologia da Libertação”, este grupo católico tinha um posicionamento político e social ativo dentro das comunidades indígenas, e lutaram por melhorias para os povos indígenas, por melhor educação, saúde, moradia etc..
O que é a Teologia da Libertação?
“A teologia da libertação é uma doutrina religiosa que foi criada em resposta ao grande número de pessoas empobrecidas e marginalizadas presentes na América Latina. Para Michael Löwy, (LÖWY, 1991: 99) a relação que ela possui com o marxismo se deveu à necessidade de conhecer as causas da pobreza, para assim poder combatê-la eficazmente.” (Luis Andreo, Igor. Origens do EZLN: o Congresso Indígena de San Cristóbal de las Casas. p, 6)


Com a atuação deste grupo,
“A Igreja católica se encontra bastante enraizada no meio cultural e social mexicano - não sendo diferente no meio indígena. Teve por personagem principal, na região de Chiapas, o bispo da cidade de San Cristóbal de Las Casas, Samuel Ruíz, que se reorientou junto ao movimento de evangelização no sentido de buscar uma “indianização” com vistas a fundir o cristianismo com as culturas indígenas.
Desta forma, setores da Igreja Católica levaram em conta as próprias reivindicações sócio-econômicas das populações indígenas, pregaram uma tomada de consciência dos motivos dos problemas que lhes afligiam, mas, obviamente, distanciando-se de qualquer tipo de ação violenta. Não viam mais, em certa medida, os pobres como objetos de pura caridade ou pena, mas como os sujeitos de sua própria libertação, mas sempre dentro dos limites da própria instituição religiosa. (Hilsenbeck Filho, Alexander. ABAIXO E À ESQUERDA UMA ANÁLISE HISTÓRICO-SOCIAL DA PRÁXIS DO EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL,  cap. O Cristo justiceiro: O papel da Igreja, p.106-107)
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Percebe-se que o desenvolvimento do movimento revolucionário mexicano teve varias influências como do grupo paramilitar FLN e representantes da Igreja Católica e os grupos indígenas que sofriam segregação social pelas elites mexicanas. A participação destes grupos e a união indígena que consolidaram o EZLN  e a sua emancipação , contra o neoliberalismo. O processo histórico  do EZLN  e a luta se anunciará em 1994 quando o grupo paramilitar se levanta contra a proposta da classe dominante mexicana. Para o subcomandante Marcus  “Aquilo que é o zapatismo  em 1994 resulta da confluência de três componentes principais: um grupo político-militar, um grupo de índios politizados e muito experientes e o movimento índio da Selva”.

 A origens do movimento neozapatista  remonta ao congresso indígena de 74, da chegada de grupos urbanos  revolucionários como a FLN  migrando para as regiões do interior e da selva, da Igreja Católica que participou com alguns representantes da “Teologia da Libertação”, de cunho marxista, e que visava resolver e conscientizar dos problemas  sociais e culturais que assolavam os povos  indígenas. Mas a base para o movimento e reivindicação do EZLN e a terra e a emancipação dos povos indígenas e de uma política onde “haja tudo para todos”, e ainda a influência simbólica de Emiliano Zapata que está enraíza na mentalidade mexicana, do pós - revolução mexicana. Estes são os grandes fatores que influenciaram para o desenvolvimento do grupo revolucionário.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

EZLN o que é?

O que é o Exercito Zapatista de Libertação Nacional?
Definir o que é o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) é uma tarefa um tanto quanto complicada. Para isso teremos que compreender quais os motivos e quais os fatores que implicaram para o desenvolvimento deste movimento revolucionário.
O aparecimento do EZLN no dia 1º de janeiro de 1994 foi sem dúvida um fato que criou uma ruptura nas entranhas da sociedade civil mexicana. O EZLN surge como um movimento armado que no ano de 1994, com o acordo da NAFTA (North American Free Trade Agreement) ou TLC (Tratado de Livre Comércio) assinado pelo governo mexicano e inserindo o México ao plano econômico neoliberal, o movimento aparece da Selva de Lancadona no Estado de Chiapas, tomando o controle de algumas cidades, tais como  San Cristóban de Las Casas, Las Margaritas, Ocosingo e Las Cañadas, como forma de resistência ao acordo comercial.
Os motivos que desencadearam a insurreição do movimento armado estão pautados nas terras destinas aos indígenas, que com o Tratado de Livre Comércio (TLC) excluíram os povos indígenas de Chiapas de suas terras, já para o governo mexicano seria a entrada do México no primeiro mundo.  Com o acordo assinado e sobre forte pressão dos Estados Unidos que “exigiram que fosse abolido o Artigo 27 da Constituição mexicana, que dava direito a reforma agrária, além de cortar todos os subsídios que as populações indígenas recebiam do governo para cultivar, por exemplo, o milho.”(1) “DAS MONTANHAS MEXICANAS AO CIBERESPAÇO”.
Os indígenas se encontraram prejudicados e sem seus direitos até então assegurados pela constituição. E com base no Artigo 27 da constituição de 1917, consolidada pelo então presidente Lázaro Cárdenas que efetivou na década de 30 a expropriação de terras e dividiu entre os indígenas, efetivando os propósitos da revolução mexicana de 1910, é que a luta do movimento têm grandes repercussão para o mundo, assim sendo o grande motivo para o levante zapatista.
Sendo assim, com os fortes grupos capitalistas e com o Tratado de Livre Comércio (TLC) os indígenas sofreram grandes mazelas, e para justificar observe abaixo que o Buenorostro dirá:



“Com o advento do modelo econômico neoliberal e o Tratado de Livre Comércio ( ou NAFTA), o artigo 27 constitucional foi  reformado.  A conseqüência dessa  medida foi  a desarticulação do modelo de vida camponesa, a cerração do reparto agrário. A luta pela terra foi considerada ilegal; as organizações camponesas independentes do Estado foram reprimidas e impedida de exercer seus direito como cidadãos.”(BUENOROSTRO. P.95)


Com a reformulação do Artigo 27 da constituição devido ao pacto comercial, os povos indígenas camponeses que dependiam das terras para sua sobrevivência e de sua cultura foram segregados de sua terra, por medidas econômicas adotadas pela classe dominante mexicana, assim não havia outra forma se não a união dos povos segregados em busca de seus direitos, que estão sendo violentamente massacrados desde quando os espanhóis colonizaram o México, a mais de 500 anos.
A luta do movimento zapatista e para que não se perca a essência de sua cultura, que está inteiramente ligada a terra, ao cultivo. As comunidades indígenas necessitam das terras para sua continuidade, pois

“A terra é para o indígena, portanto, vida, tradição e cultura. Para os não-indigenas, fazendeiros, pecuaristas, latifundiários e multinacionais, ela é simplesmente um meio de produção capaz de fornecer-lhes renda e, além disso, instrumento de dominação e um espaço que se transforma em mercadoria... Nesse contexto, a luta pela terra é uma luta cultural e política entre o comunitarismo indígena e o individualismo que disputa unicamente sua exploração para beneficio próprio.” (Buenorostro,  P. 35)
                      
Percebe-se a grande importância da terra para os indígenas e por quais motivos os grandes grupos capitalistas estão interessados em adquirir a posse das terras destinas aos povos indígenas de Chiapas. A verdade é que desde a colonização do México passando pela independência e a Revolução Mexicana até os dias atuais  os povos indígenas lutam pelos seus direitos pela terra, está luta é antiga e a bandeira que foi levanta na revolução de 1910, pelos revolucionários como  Emiliano Zapata e Pancho Villa era de Reforma Agrário, distribuição de terra para todos, entretanto, devido as ordens capitalistas estás terras foram destituídas pelos governantes, sendo assim, os indígenas forçados a trabalhar de forma escrava e perdendo o que eles tinham de mais essencial a ligação com à terra.
A bandeira que o EZLN levanta está pautada nos ideais de Emiliano Zapata líder revolucionário que lutou contra a exclusão de comunidades indígenas pelo governo mexicano, originando a Revolução mexicana de 1910.
Contudo, como definir o que é o EZLN?
“Os zapatistas são, ao mesmo tempo um grupo armado com amplas bases sociais e um movimento popular que contesta as concepções tradicionais da política. Um movimento armado que não pretende a tomada do poder, mas sim um diálogo permanente com a sociedade civil, que possibilite um movimento maior pelas transformações sociais...
As ações políticas do EZLN estão sustentadas também numa concepção de democracia que parte da experiência das comunidades indígenas e projeta-se em nível nacional, fazendo a crítica às limitações do atual modelo partidário-eleitoral e propondo novas formas de luta política que combatam radicalmente a exclusão social.”( Ortiz, Pedro Henrique Falco.)

(Imagem do site destinyschildren.org)


O movimento zapatista não pretende tomar o poder e governá-lo e sim ter participação política e social ativa, e que os povos indígenas sejam reconhecidos e tenha seus direitos assegurados de modo que possam expressar suas idéias e também sua cultura.   Ao decorrer do texto observamos a luta pela autonomia dos povos indígenas e que o movimento zapatista luta contra a exclusão destes povos, assim, o EZLN representa a resistência indígena e também a resistência dos oprimidos, é um grito de socorro que estava engasgado na garganta por muito tempo e que explodiu em 1° de janeiro de 1994, quando o movimento armado aparece para o mundo, expondo seus problemas, suas dificuldades,  e sua luta contra o neoliberalismo americano.  Sua luta pela terra expressa à luta pela cultura indígena e camponesa mexicana, este movimento representa não só a luta  no México mais  no mundo, uma luta contra a desigualdade a intolerância e a discriminação étnica, e o “já basta” contra a forjada democracia neoliberal que oprimi e exclui milhares de pessoas no mundo.